quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Quando a mais bela perde!

A fotografia que se tornou emblemática após os primeiros momentos da coroação da mexicana Jimena Navarrete como Miss Universo 2010 mostrava absoluta surpresa, como se dissesse, irônica e envergonhada, com sua expressão facial: “Perdoem. Não sou a melhor, mas isso é o que temos para hoje!”

Jimena esteve sempre apontada como uma das melhores de todo o concurso, mas o supremo favoritismo da irlandesa Rozanna Purcell – inexplicavelmente abatida no Top 10 após um desfile de vestido de gala, quase unanimemente notado como o mais sofisticado da noite – era percebido como superioridade inquestionável pela maioria das candidatas.

Qualquer resultado que não trouxesse a européia como vitoriosa seria tomado como surpreendente ou, na pior das hipóteses, construído nos bastidores por interesses alheios à disputa. Rozanna não tinha um corpo perfeito, mas passou pela prova de maiô ilesa e não fazia sentido algum ser abatida na prova em que merecia a maior nota.



Está aí um fato bastante comum na história dos concursos: muitas das melhores candidatas sequer chegam às finais, inexplicavelmente. As bolsas de apostas entram em polvorosa quando algumas delas sequer chegam a fazer parte da primeira seletiva. É verdade que muitos jurados da noite final não são especialistas da área de moda, cosméticos ou da indústria da beleza, mas uma miss promissora não passar das preliminares é fato que suscita as piores suspeitas.

Em 2009, a russa Sofia Rudieva nem fez o Top 15, à semelhança de Karla Carrillo – Miss México previamente apontada como séria concorrente à coroa. O jogo das compensações, entretanto, costuma atuar de modo perverso. E talvez ele, e somente ele, possa explicar as razões da vitória da bonita, mas não imbatível, Jimena.

No jogo de compensações, o mundo teve que engolir a vitória da vesga Ryio Mori em 2007 sobre a brasileira Natália Guimarães e sobre a coreana Honey Lee. No ano anterior, a japonesa Kurara Chibana, aclamada como a melhor da noite, viu a coroa ir parar na cabeça da porto-riquenha Zuleyka Rivera. Sua sucessora japonesa foi compensada.

Contudo, basta observar mais atentamente o rosto de Zuleika no memento de coroação de Ryio para perceber sua "leve" displicência quando, mal-humorada com o resultado absurdo, derruba a coroa da cabeça da sucessora.



Mas, possivelmente, também a vitória de Zuzu deva ser explicada pelo jogo de compensações tardias. No ano anterior, a belíssima Miss Porto Rico Cynthia Olavarría ficou em segundo lugar, ao perder para a canadense Natalie Glebova. Aqui não se pode dizer que houve injustiça, pois ambas tinham plenas condições de vencer, especialmente porque estiveram exuberantes na noite final.

O assunto não é novo. Na década de 1990, a conquista da coroa pela Namíbia, em 1992, com Michelle McLean, quando concorria a venezuelana Carolina Izsak, é incompreensível. Em 1993, a porto-riquenha Dayanara Torres ter vencido Milka Chulina é fato eternamente lamentado, e somente compreendido quando se observam as notas ministradas pela compatriota Maria Conchita Alonso dadas a Milka Chulina – comenta-se que por desavença com Osmel Sousa.

Nos anos 1980, a derrota da espanhola Tereza Sánchez López para a porto-riquenha Deborah Carthy-Deu é outra daquelas aventuras que, para serem descritas, precisam contar com a ausência de lógica como aliada da narrativa. As notas relativamente baixas de Carthy-Deu durante a noite final apenas corroboram a incompreensão deixada no ar, especialmente porque a Miss Espanha era sobretudo muito mais simpática do que a vencedora.



Trata-se de mais um dos concursos em que as notas medianas acabam levando uma miss menos brilhante às finais, com reviravolta no resultado final, diante da miss radiante de melhores notas na noite. A australiana Rachael Finch ter sido derrotada por Stefanía Fernandez em 2009 é coisa parecida. A venezuelana chegou ao Top 5 com a pior nota e sobressaiu-se, por fim, mesmo com uma resposta sem graça em sua Final Question.

Também no Brasil essas comuns injustiças acumulam-se, através das décadas. O caso emblemático é o da derrota de Adriana Barcellos, Miss Amazonas 1981, para a sua xará gaúcha (concorrendo pelo estado carioca) Adriana Alves de Oliveira. Um pouco mais pesada que sua rival loura, Adriana parecia ter garantido a vitória, quando o revés levou ao Miss Universo a bela Adriana Alves de Oliveira (Quarta Colocada no Miss Universo daquele ano).



Neste ano, tudo foi pior pelo despreparo de Sílvio Santos como apresentador de concursos. O SBT estava inaugurando e tinha comprado recentemente a marca do concurso Miss Brasil. No ar, buscando audiência a qualquer preço, Sílvio Santos teve o desplante de fazer a Miss Amazonas sentar no trono de vime antes do resultado final, tamanho o seu favoritismo, coroando posteriormente a outra candidata. Trata-se de um dos maiores vexames das transmissões de concursos que se tem notícia.

Por razões assim, há toda uma galeria de Misses Universo que venceram por razões discutíveis, colaborando para a perda de prestígio do certame. Especialmente na era de Donald Trump, os resultados têm se mostrado ainda mais manipulados. Ver, por exemplo, na organização de Trump uma miss como Morgan Woolard perder a faixa para a libanesa Rima Fakih no Miss USA é a prova cabal de que há mais mistérios entre o Céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia de botequim.

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