Há racismo na América?
Embora seja sempre estigmatizado por ter uma população altamente racista e preconceituosa em relação às diferenças culturais, os EUA mantém um dos concursos nacionais mais abertos à consagração de belezas exóticas, incomuns ou mesmo transgressora do padrão Barbie que contamina o gosto médio do norte-americano.
Talvez porque seus melhores resultados internacionais da era moderna do certame Miss Universo tenham sido conquistados justamente por misses que fogem à regra de serem loiras, de feição puritana e traços equilibradamente ocidentalizados, os parâmetros do Miss USA se modificaram sensivelmente, envergando-se como um evento político de substância arejada, realizador da inclusão integradora das diferenças.
Se nos anos 1980 ainda seria impensável uma Miss USA negra – e as morenas tinham dificuldade em conseguir pré-classificações para os tops –, nos anos 1990 o jogo se inverteu, quando a negra Chelsi Smith e a hawaiana de traços polinésios Brooke Lee sagraram-se com o título de Miss Universo em 1995 e 1997, respectivamente.
Como se sabe, isso abriu portas para que a diferença cavasse seu espaço, de modo que em 2010 foi possível até mesmo a eleição de uma libanesa de traços árabes, a alegre moça vinda de Michigan Rima Fakih – em plena era de guerra ao terror muçulmano. Rima era a única miss de cabelos negros no Top 5, diante de legítimas barbies. E venceu.
É também verdade que a péssima participação de Rima Fakih no concurso Miss Universo (tornou-se uma das 4 garotas a levar a faixa USA que não conseguiram figurar nem no primeiro top, em toda a história do Miss Universo) armou eloquente argumento contrário para a gangue dos mais conservadores e deverá desestimular, por ora, liberalidades mais radicais ainda, infelizmente.
Uma única polinésia, Macel Wilson, coroada em 1962, tinha desafiado o coro de barbies de cabelos loiros ou pretos, nos anos clássicos do Miss USA – quando 5 coroas de Miss Universo foram abocanhadas.
Mas já são outros tempos, os de agora. Donald Trump, hoje em dia, não desperdiçaria a beleza de uma mulher como a da talentosa e oscarizada atriz Halle Berry, segunda colocada no Miss USA 1986, pelo estado de Ohio. Até então, uma negra poderia chegar à beira, mas nunca vestir a coroa.
Recentemente, e talvez metaforizando a era Obama, houve vitórias consecutivas de Rachel Smith e Cristle Stewart. Infelizmente, as duas se estatelaram ao chão durante o desfile de traje de gala, como as duas torres gêmeas, em inacreditáveis dois anos seguidos do Miss Universo.
A primeira afro-americana a ser coroada Miss USA foi Carole Gist, em 1990. Foi um passo e tanto, capaz de abrir portas para Kenya Moore, em 1993, e Lynette Cole, na abertura do novo milênio, em 2000. De 2000 a 2010, 5 afro-descendentes venceram o concurso de Miss USA, como a afirmar a identidade negra em seus valores estéticos.
O caso mais emblemático foi o do concurso vencido por Shauntay Hinton, em 2002. A negra de cabelos curtos e corpo muito musculoso, completamente distinta do padrão de beleza tradicional cultivado em seu país, deslumbrou a todos e chegou a vitória em um concurso em que 4 das 5 finalistas eram negras.
Quando o apresentador começa a “chamar” o Top 5, surpreendentemente todas as negras ainda “vivas” na disputa são convocadas. Curiosamente, uma candidata entrevistada no intervalo – após este acontecimento histórico – e lança seu petardo: “Go, Kansas!”, que era então o estado da única branca do Top 5.
Shauntay Hinton também obteve a mesma péssima classificação que a libanesa Rima Fakih. Entretanto, os norte-americanos foram persistentes e elegeram em 2003 a mestiça Susie Castillo. Assim como Rachel Smith, Susie Castillo recebeu sua ascendência africana pelo viés latino porto-riquenho, de onde migraram seus familiares.
O fato é que, ano após ano, as misses étnicas conquistam marcante presença no Miss USA – transformando para melhor a visão sobre o belo, que se torna mais amplo. Que os tropeções da caminhada não impeçam a afirmação das merecidas vitórias da poderosíssima Cristle Stewart e outras que vieram e que virão.
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