sábado, 19 de junho de 2010

Rima Fakih: guerra ao terror da Era Bush

Para surpresa geral, em uma noite em que as loiras dominaram os parâmetros de beleza, a escolha da Miss USA 2010 incidiu sobre Rima Fakih, única morena do Top 5. Libanesa de nascimento e representante do estado de Michigan, a simpática menina árabe de corpo e desfile arrasadores causou polêmica ao se tornar a primeira Miss USA descendente da beleza vigente no Oriente Médio.



Rima nunca figurou entre favoritas, durante as preliminares, e as bolsas de apostas tendiam para o “padrão de beleza Barbie”, especialmente voltadas para a fortíssima candidata de Oklahoma, Morgan Elizabeth Woolard, que terminou como segunda colocada; e para Kelsey Moore, uma texana jogadora de vôlei que embora badalada entre missólogos sequer figurou entre as semifinalistas do Top 15.

Na noite final, Jessica Hartman ofertou ao Colorado notas muito altas e parecia ser a opção dos jurados. Enquanto Colorado e Okhlahoma (e até uma estranha candidata altíssima do Maine, Katie Whittier) lideravam as pontuações das passarelas de biquíni e de trajes de gala, Rima conseguia apenas scores suficientes para a classificação à fase seguinte, praticamente na linha de corte (em 9º., para Swuimsuit Competition; em 4º. para Evening Gown Competition, mesmo com um tropicão no vestido, no momento da finalização).



Talvez tenha sido sua desenvoltura, na pergunta final, a responsável pela inesperada virada de mesa na opinião do júri. É bem verdade que a postura conservadora da sua principal rival, de Oklahoma, condenando imigrações (e Rima é uma imigrante árabe) e o excesso de tensão das respostas de Colorado e Maine colaboraram para que os holofotes ficassem então focados sobre Michigan.

Não se pode esquecer a extrema importância da pergunta final: no ano anterior, a favorita Miss Califórnia, Carrie Prejean, entregou a coroa nas mãos da baixinha Kristen Dalton (também badalada desde as prévias) ao pregar contra o casamento gay, na resposta à pergunta do jurado Perez Hilton.

Mas parece ter sido mesmo a busca de Donald Trump por uma candidata polêmica, capaz de reacender na mídia a fogueira de vaidades da beleza americana, que fez da carismática e incompreendida Rima a nova rainha da beleza estadunidense. Instantes após sua coroação, a imprensa estarrecida noticiou a vitória da beleza árabe sobre as Barbies, em plena era da Guerra do Terror.



Familiares de Rima Fakih ligados ao Hezbollah e mortos durante guerras recentes contra Israel foram desenterrados pelos jornais sensacionalistas e, nos dias seguintes, Rima teve que esclarecer sua postura nacionalista, apesar da beleza étnica pouco digestiva. Não bastassem as insinuações de que houvera pressão terrorista para que a coroa fosse parar na cabeça de uma árabe-americana vinda do Líbano, fotos sensuais de Rima praticando pole dancing (uma dancinha praticada nas boates pelas prostitutas) estamparam as páginas da internet e motivaram toda uma verdadeira inquisição, nos programas de entrevista a que Rima Fakih espertamente peregrinou, desde a TV aberta até os programas mais obscuros e fechados da TV paga.



Se Trump está querendo audiência e valorização do seu produto, de fato eleger Rima foi uma ação de marketing muito bem estruturada. Além de tocar na ferida aberta do espírito anti-terror destes tempos atuais, radicaliza a crítica aos padrões estéticos da era Bush, visando profunda modernização dos paradigmas do concurso. Curiosamente, neste ano, o apresentador da noite não foi o almofadinha Billy Bush, primo direto de George W. Bush, host do concurso de 2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário