quinta-feira, 22 de julho de 2010

A Independência do Kosovo


A afirmação da independência política de uma jovem nação envolve a produção de signos que atinjam, com seu poder simbólico de impacto, tanto o imaginário de seu povo (que passa a cultuar figuras heróicas associadas à libertação de forças históricas opressoras), internamente, quanto a comunidade internacional, que precisa reconhecer os direitos da nova demarcação de fronteiras, e que também é afetada pela construção de valores positivos ligados ao novo país.

A recente proclamação de independência do Kosovo, a partir de sua capital Pristina, em fevereiro de 2008, tem exigido que a nova república, mais um fragmento da implosão étnico-religiosa da antiga Iugoslávia, realize esforços para sua afirmação.


Embora a Corte Internacional de Justiça, máxima instância judicial da ONU tenha declarado em Haia, a 22 de julho de 2010, que não houve violação de direitos humanos neste processo de libertação, e 69 países já tenham reconhecido o país até esta data (inclusive Estados Unidos, Japão e 22 membros da Comunidade Européia), há ainda um número grande de países que não reconheceram diplomaticamente a existência livre kosovar (dentre eles, todos os BRICs – Brasil, Rússia, Índia e China).

Mesmo assim, ou justamente por estas razões, já desde 2008 o Kosovo tem enviado misses como estratégia de representação cultural e política no programa de TV, aberto mundialmente, que é o Miss Universo. Duas edições já se foram e o Kosovo alcançou raro destaque, em tão pouco tempo.



A despeito dos interesses comerciais, excepcionalmente ativados em um momento de indefinições políticas, e que fazem com que emissoras de TV do porte da NBC de Donald Trump queiram rápida aproximação, as estratégias de produção de símbolos patrióticos de Kosovo têm demonstrado ótimo faro de marketing e eficácia indiscutível.

Ao se apropriarem de imagens consagradas pelo cinema, as primeiras misses kosovares desfilaram como verdadeiras citações a ícones da cultura pop e representaram, diante do mundo, a beleza exótica de um povo novo. Mas um povo cuja mitologia se faz com imagens pop.

Zana Krasniqi, a primeira miss Kosovo da História, procurou clonar com seu rosto impactante, a beleza comercialmente consagrada de Angelina Jolie. Não fosse um corpo um pouco pesado para os parâmetros do concurso, teria ido mais longe do que o excelente Top 10 conquistado com seu desfile erotizado, cheio de lábios carnudos, sorrisos malignos e olhares penetrantes.



Como também é comum que misses de países estreantes consigam classificação (ainda que não merecida), Zana não causou a mesma surpresa que sua sucessora, Marigona Dragusha, representante de 2009. Para além de seu exotismo inquestionável, Gona surpreendeu os jurados em seu desfile de traje de noite com uma clonagem de Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany´s, 1961). Desde o penteado retrô até a escolha elegante do vestido, a moça veio com a personalidade marcante de um verdadeiro ícone.

Num ano em que a vitória resultou para uma venezuelana (Stefanía Fernandez) também cinematograficamente vestida com sua latinidade, Gona alcançou o Top 5 com notas altíssimas vindas dos jurados (9.250 pontos) e terminou o concurso como terceira colocada em 2009.



Muitas antigas repúblicas soviéticas têm tentado produzir imagens mundiais no futebol, em sua produção cultural e também em concursos de misses. No concurso Miss Universo, vários novos países conseguiram destaques relativos, como Eslovênia, Ucrânia, Letônia, República Tcheca, Eslováquia etc. Da antiga Iugoslávia, todos os países já tiveram classificações nos tops, com exceção da Bósnia (muito possivelmente como conseqüência da guerra brutal que arrasou sua população majoritariamente muçulmana) Mas nenhum obteve, em tão pouco tempo, a proeminência que o Kosovo (este “campo dos melros” das misses) conseguiu.



Para 2010, Keshtjella Pepshi chega ao concurso com uma tarefa patriótica e tanto. Assim como a venezuelana Marelisa Gibson tem a missão quase impossível de trazer o tri (a Venezuela é a única bicampeã da história da competição), Pepshi corre atrás de um resultado tão bom quanto suas antecessoras, para contribuir para a divulgação internacional de sua pátria.

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