quinta-feira, 22 de julho de 2010

Globalização

Num mundo interligado, em que as informações se transmitem com uma freqüência assombrosa e a possibilidade de trânsito através das fronteiras dos países (apesar das políticas de imigração cada vez mais intolerantes) ter alcançado uma dimensão historicamente inédita, o concurso Miss Universo espelha esta condição que faz do homem contemporâneo um sujeito do mundo.



Se uma libanesa como Rima Fakih vence o concurso de Miss USA 2010 e estabelece uma enorme polêmica em torno da escolha de uma beleza árabe para representar os Estados Unidos, é porque as sociedades atuais (e especialmente a norte-americana) são cada vez mais híbridas, dependentes dos trânsitos de imigração e permitem que muitos escolham de que localidade preferem ter cidadania.

Também a Miss USA 2007 (protagonista do primeiro e ironizado tombo das “torres gêmeas”), Rachel Smith, nasceu fora das fronteiras de seu país: seus pais moraram no Panamá, onde ela nasceu enquanto eles prestavam serviços à nação. A rigor, sua nacionalidade é norte-americana, embora seu nascimento seja latino.

Laura Martinez-Herring, Miss USA 1985, é nascida no México. Não vem ao caso, aqui, lembrar minuciosamente todos os horrores vivenciados na fronteira destes dois países. O que é inegável é a tremenda presença e influência de mexicanos legais ou ilegais na vida norte-americana, especialmente ao sul.




Outros casos menos emblemáticos podem ser lembrados, em escala crescente, mesmo naquelas que são cidadãs estadunidenses por nascença. Em 2003, Susie Castillo consagrou sua ascendência porto-riquenha e também elegeu-se Miss USA. Em 2009, a quarta colocada, vinda do estado de Utah, Laura Kirilova Chukalov, exibiu sua ascendência búlgara de beleza estonteante e esteve próxima de ameaçar o sucesso da vitoriosa Kristen Dalton.

Mas também fora dos Estados Unidos a participação de estrangeiras é cada vez mais determinante nos resultados obtidos pelos países, no concurso Miss Universo. O caso mais famoso é o da russa naturalizada canadense Natalie Glebova, eleita Miss Universo portando no peito a faixa do Canadá, em 2005.



Sua vocação globalizada é tamanha que, nas viagens de seu reinado, Glebova se identificou profundamente com a Tailândia (onde foi eleita), para onde voltou diversas vezes. Aderiu à fé local, terminando por casar-se com o astro do tênis tailandês, Paradorn Srichaphan.

No ano de 2009, o Canadá tentou replicar o sucesso obtido em 2005. Mas não teve êxito internacional a escolha da brasileira Mariana Valente para representá-los. Mariana, a exemplo da potiguar Larissa Costa, que representava o Brasil e aparecia como favorita nas votações de internautas, não conseguiram nenhuma classificação.



Em 2010, o concurso canadense resolveu novamente concentrar suas apostas em uma "estrangeira": Elena Semikina, a altíssima miss nascida em Moldova no ano de 1984 foi escolhida para representar, com sua imagem globalizada, a beleza que nos anos 1980 chegou à coroa através de Karen Baldwin, esta sim nascida em Ontário.



E até mesmo no “país das misses” os organizadores e preparadores de beldades tiveram que se render à lógica globalizada: apontada como favorita pelas bolsas de apostas do mesmo concurso de Semikina, a representante das Filipinas, Vênus Raj, trás uma memória de miséria e privações. Nascida em Doha, capital do Qatar, aproveita o processo de mundialização da beleza para se impor ao Universo.

O próprio Donald Trump já deu entrevista defendendo que o concurso se abra cada vez mais à experiência da globalização e às trocas culturais. O fato de ser um concurso internacional, realizado sob diferentes línguas e culturas sempre fez com que a vitoriosa fosse vista como embaixatriz do mundo sem fronteiras.

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